É Proibido Fadiga
O mais importante é estar em constante produção, na falsa promessa de uma recompensa e de um sucesso que nunca chegam.
Desde muito cedo somos bombardeados pelo discurso da superprodução e do super desempenho, disciplinados a acreditar na ilusão de que a recompensa e outras coisas boas acontecem somente para aqueles que se mantêm em uma constante produtividade.
Numa sociedade que dá valor somente ao desempenho, as pessoas vivem para o trabalho e transformam tudo ao redor em trabalho, não existe lazer nem hobbies, tudo se torna produção visando um lucro. O desempenho se torna uma autoexploração, onde a pessoa sobrevive correndo contra o tempo e está sempre faltando algo, até consumir-se por inteiro.
A verdade é que vivemos em uma sociedade do cansaço, vivendo uma incessante aglomeração de metas e expectativas, sempre insatisfeitos. Acreditando num conceito infundado do que é “se dar bem na vida”, utilizando modelos desproporcionais com a realidade.
Em televisão, revistas, conversas e, principalmente, nas redes sociais, você passa a ver diversos exemplos de sucesso por todos os lugares, mas que ignoram particularidades e contextos, ao mesmo tempo que reforça estereótipos, como se existisse uma receita pronta para o sucesso. Passamos, às vezes sem perceber, a nos comparar com os outros, mesmo que o estilo de vida seja totalmente diferente. E a conclusão é de que você não fez o suficiente ainda, e que precisa produzir mais para alcançar o tão prometido sucesso.
A pressão de não ficar parado por um segundo sequer, o julgamento de estar fazendo algo "importante" com a vida, a cobrança de que você pode até estar indo bem, mas sempre terá alguém fazendo mais e melhor. Competimos com os outros, mas o nosso maior concorrente se torna nós mesmos.
Uma visão destrutiva, nos forçando a superar constantemente o que já fizemos, o que fomos e o que somos. A produtividade exagerada oferece a ilusão de que só assim irá alcançar uma autorrealização, ao mesmo tempo que se alimenta do medo de termos uma data de validade. É um ciclo, e é uma das inúmeras engrenagens que mantém esse estilo de sociedade parasita funcionando.
Como se não bastasse o falso discurso de que apenas com a super produtividade teremos uma recompensa, existe também uma exigência de que “temos que sair da nossa zona de conforto” para justificar o cansaço e a angústia. É reforçado constantemente que, se quisermos alcançar o verdadeiro sucesso, é necessário ignorar os nossos limites para corresponder expectativas desleais e instáveis.
O mais importante é estar em constante produção, elevando constantemente o desempenho, sempre em movimento e nunca satisfeitos com o resultado. O cansaço é proibido se quer alcançar o tal sucesso que tanto falam. E engana-se quem acredita que as coisas ficam 100% melhores quando negamos a dinâmica do desempenho e super produtividade, há toda uma diretriz de punição para aqueles que teimam em "sair da linha". Se tornam pessoas que vivem como excluídas, enquanto aqueles ainda presos na sociedade do desempenho apenas sobrevivem, como mortos-vivos presos numa miragem.
Acho que já deu para compreender o que estou querendo dizer aqui, não é mesmo? É uma mistura de reflexão com inconformidade, um desabafo com um toque de insatisfação e revolta. Pois a promessa de que o único modo de ser bem-sucedido é estar sempre ocupado e em constante produtividade… É uma farsa.
Lógico que ser produtivo é bom, mas não se sobrecarregue! Não precisa exagerar na produção para mandar bem no que faz, muito menos para ser feliz. Trabalhar em excesso até a exaustão, sacrificar a saúde e a vida no geral para colocar em primeiro plano as demandas do imediatismo e da super produtividade é uma tremenda cilada. O único resultado certeiro dessa dinâmica é o próprio esgotamento e infelicidade.
E termino com uma pergunta: ignorando todo o discurso que vemos nas mídias e que escutamos há gerações, o que é sucesso de verdade para você?
Sugestão de leitura: A Sociedade do Cansaço, por Byung-Chul Han.
Sugestão de documentários: From Business to Being, na Amazon Prime; Burnout - the truth about work, no DokBox.
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Logo no momento em que estou travado no dilema " preciso produzir muito mais" eu me deparo com esse texto maravilhoso.